Cemitério dos Ingleses
Salvador (Bahia – BA)
A história da cidade de Salvador começa com a descoberta da Baía de todos os Santos, 48 anos antes de sua fundação oficial. A Baía possuía boas condições portuárias e de localização, passando a ser um dos pontos mais conhecidos e visitados da América Latina, fomentando assim a idéia da construção da cidade. O rei D. João III nomeou o militar e político Thomé de Souza para ser governador geral do Brasil e fundar às margens da Baía a primeira metrópole portuguesa na América. Em 29 de março de 1549, a armada portuguesa aportou no Brasil, comandada por Diogo Álvares o “caramuru”, assim foi fundada a cidade do São Salvador da Baía de Todos os Santos.
Em 1808 a família real portuguesa escolheu a cidade para fugir das investidas de Napoleão na Europa. D. João, Príncipe regente de Portugal, se aliou aos ingleses da Grã-Bretanha, por essa razão foi obrigado a fugir das tropas de Napoleão, estabelecendo a sede de seu império no Brasil, fora dos limites urbanos. Navios ingleses escoltaram o príncipe e sua corte até o novo país. Dois anos depois Portugal assinou com a Grã-Bretanha acordos passando à eles o domínio comercial do Brasil. Os ingleses vieram para o Brasil e podem ser divididos em grupos distintos: os que vieram para lucrar e retornar à Inglaterra; os que ficaram. Alguns vieram trabalhar em áreas autônomas como de médicos, professores, fotógrafos, engenheiros, artesãos; outros como trabalhadores braçais. Centenas de ingleses foram enterrados no Cemitério dos Ingleses. Esse cemitério de certa forma se tornou uma referência inglesa na Bahia, e foi recentemente restaurado e revitalizado. O CIB (Cemitério dos Ingleses da Bahia) foi construído no início do século XIX, provavelmente a partir de 1811. Sabe-se que a igreja Católica não realizava enterros de acatólicos, e os ingleses tinham o protestantismo como religião oficial, sendo assim, tiveram que construir um cemitério para enterrar seus mortos. Segundo Gilberto Freire, os ingleses estabeleceram pelo menos 6 cemitérios no Brasil, sendo eles em Belém, São Luís, Rio de Janeiro, Recife, Bahia e Barão dos Cocais-MG. Hoje só restaram três: os de Recife, Bahia e Rio de Janeiro. O Cemitério dos Ingleses tem uma relevância especial na história da cidade de Salvador.
Cronologia:
- 1549 – A Armada portuguesa aporta no Brasil. Fundação da cidade de São Salvador da Baía de Todos os Santos.
- 1624/25 – A cidade foi invadida pelos holandeses.
- 1798 – Revolta dos Alfaiates.
- 1809 – Conde dos Arcos assume a administração da cidade.
- 1811 – Permitida a construção do Cemitério dos Ingleses.
- 1814 – Repassado o terreno do cemitério dos ingleses a comunidade britânica na Bahia, pelo Conde dos Arcos, governador.
- 1814 – Provavelmente o ano da construção do Cemitério dos Ingleses.
- 1835 – Ocorre a revolta dos escravos muçulmanos “Revolta dos Males”.
- 1835 – Aprovação da lei provincial que vedava os enterramentos nas igrejas e também nas catacumbas.
- 1836 – Inauguração do Cemitério Campo Santo.
- 1836 – Revolta “Cemiterada”, que destruiu parte do Cemitério Campo Santo.
- 1844 – O Cemitério Campo Santo é implantado definitivamente.
- 1855 – Os cemitérios públicos foram definitivamente estabelecidos em Salvador.
- 1856 – Oficializado o Cemitério Público da Quinta dos Lázaros. (1º cemitério da Quinta dos Lázaros).
- 1856 – Fundação do Cemitério da Venerável Ordem Terceira da Penitência do Seráfico Pe. São Francisco. (2º cemitério da Quinta dos Lázaros).
- 1857 – Instalação do Cemitério do convento de São Francisco. (3º cemitério localizado na Quinta dos Lázaros).
- 1857 – Fundação do Cemitério dos Lázaros. (4º cemitério da Quinta dos Lázaros).
- 1859 – Instalação do Cemitério da Venerável Ordem Terceira do Carmo. (5º cemitério localizado na Quinta dos Lázaros).
- 1987/1993 – Processo de Tombamento da vista da Baía de Todos os Santos.
- 1993 – Tombamento do Cemitério dos Ingleses e da vista da Baía de todos os Santos pelo IPAC – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia.
- Século XX – Instalação do Cemitério dos Israelitas, também localizado na Quinta dos Lázaros.
- 2004 – Projeto de restauração e recuperação do cemitério dos Ingleses. Arquiteto responsável: Ernesto Carvalho.
- 2004 – Responsabilidade do Cemitério dos Ingleses: Fundação Clemente Moriaru.
- 2005 – Finalização do processo de restauração do Cemitério dos Ingleses.
- 2008 – O Cemitério dos Ingleses encontra-se ativado para receber os estrangeiros protestantes.
- Século XXI – Fundação do Centro da Memória da Comunidade Inglesa na Bahia, no Cemitério dos Ingleses.
O Cemitério dos Ingleses localiza-se na ladeira da Barra, no bairro Barra. Sabe-se que esta é a região mais bonita da cidade, foi um dos locais escolhidos para dar início à cidade, sendo ponto estratégico na defesa das terras conquistadas pelos portugueses. Com o naufrágio do Galeão Sacramento, no século XVII, constrói-se o Farol da Barra no intuito de orientar os navegantes, tornando-se, depois, um dos marcos da cidade de Salvador. O Cemitério está encravado na meia-encosta desta ladeira, são 450 tumbas espalhadas pelos três mil m².
Várias pessoas ilustres foram enterradas no Cemitério dos Ingleses, entre elas: John Ligertwood Paterson, um dos fundadores da Escola Tropicalista Baiana; Edward Pellew Wilson, fundador da empresa de navegação Wilson, Sons e CO.; e um dos primeiros moradores, talvez o primeiro, do casarão no Campo Grande, que se tornou a morada dos Cardeais e Arcebispos Primazes do Brasil. Há placas cravadas no muro, que homenageiam os trabalhadores ingleses que morreram de febre amarela durante a construção de São Francisco Railway.
Ali estão enterrados protestantes ingleses, escoceses e americanos. Destaca-se uma ala exclusivamente dedicada aos judeus que, no passado, não podiam ser enterrados nas igrejas católicas. A capela tem influencia da arquitetura vitoriana, onde se faz orações, velórios, batismos e outras sagrações voltadas ao ritual protestante. A maioria dos túmulos estão instalados no terreno horizontal que dá acesso à capela; há aqueles encostados e apoiados nos muros, construídos em planos na encosta que avista a Baía de Todos os Santos – uma das mais belas paisagens de Salvador. Ao visitá-lo, o turista terá oportunidade de reconhecer túmulos de grande valor artístico e histórico. Fica registrado no Cemitério dos Ingleses à memória dos ingleses que escolheram radicar-se na Bahia.
- BORGES, Maria Elizia. Arte funerária no Brasil (1880-1930). ). Ofício de Marmoristas Italianos em Ribeirão Preto. Belo Horizonte: C/ Arte, 2002.
- CARVALHO, Ernesto. Uma necrópole renascida – A história do Cemitério dos Ingleses na Bahia. Material de pesquisa, enviado para Maria Elizia Borges em 2008.
- MENDES, Cibele de Mattos. Práticas e representações artísticas nos cemitérios do convento de São Francisco e Venerável Ordem Terceira do Carmo Salvador – Século XIX (1850-1920). Dissertação, (Pós Graduação em Artes Visuais). Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007.
Sites:
- www.svn.br.inter.net/5star/CIB/cib-port_main.html(Acessado em fevereiro de 2008).
Créditos:
- Coordenação e pesquisa: Maria Elizia Borges.
- Criação do site: Catu Design, 2008.
- Fotografia: Maria Elizia Borges, 2006.
- Manutenção do site e pesquisadora: Ana Maria Linhares de Almeida – CNPq.
- Adicionado em 2008.
